O mercado de trabalho sobre a ótica marxista: breves reflexões

O mercado de trabalho sobre a ótica marxista: breves reflexões

COSTA, Thiago Augusto Pestana da[1]. O mercado de trabalho sobre a ótica marxista: breves reflexões.

 

Introdução

            O presente artigo busca compreender o mercado de trabalho como algo intrínseco a civilização desde os tempos mais remotos. A polêmica acerca da transição do feudalismo para o capitalismo já nos foi apresentada por outros estudiosos do tema e a partir desta conjuntura explicitaremos algumas reflexões acerca do mercado de trabalho a partir da teoria marxista.

 

Polêmica marxista sobre a transição do feudalismo para o capitalismo

 

        Torna-se evidente iniciar esta questão elencando a importância de Marx para o debate historiográfico acerca da transição do feudalismo para o capitalismo onde PAIVA coloca em debate alguns pesquisadores do tema que levantam suas teorias sem pretensão de colocá-las como definitivas. Para Sweezy, esta transição se deu por influências externas (exógenas). Ou seja, o capitalismo não foi algo de eclodiu subitamente do nada e se alastrou por toda a Europa Medieval uma vez que não eram todas as sociedades que estavam alicerçadas no feudalismo e nisso ele concorda com Dobb. A transição dos sistemas econômicos não se dá a partir de uma determinada regra geral posta. Para Marx, é a partir do próprio seio da sociedade que surge a sua superação, e disso, Dobb compartilha, mas não Sweezy que percebe que as dinâmicas se dão de região para região (exógenas) e sua solidificação em um específico lugar – e nisso Hobsbawn está de acordo – o que acaba por forçar as demais se tornando um sistema econômico universal. Sweezy se debruça na obra de Dobb no intuito de elencar aquilo que o autor não descreveu e discordar da visão marxista dogmática unilinearista pelo qual Stalin se apropriou.

        Entretanto, do conceito de micro para o macro é que poderemos compreender melhor esta transição, sobretudo por intermédio do estopim da denominada ascensão do comércio pelo qual Hobsbawn compactua da ideia de Sweezy nos fatores exógenos. Por outro lado o todo deve ser explicitado, ou seja, não é possível analisar esta transição de maneira determinista. Assim sendo, Takahashi aponta sua crítica à Sweezy afirmando que este pensador da elite não considerou a possibilidade de um modo feudal na Europa Oriental e na Ásia no seu discurso. Sweezy afirmou que estas regiões de sistemas mercantis avançados com economia voltada para uso é que vão impulsionar em contato com a Europa Ocidental o modelo econômico de troca.

        Em função disso, as cidades vão passar por um renascimento, ou seja, uma efervescência de contingente populacional que vai sair do campo rompendo os laços servis para trabalhar nos grandes centros urbanos. A terra passou a ser vista como uma mercadoria comum como os demais produtos e o bem retirado dela, era projetando o máximo de retorno possível. Isso se tornou sinônimo de poder aonde as mercadorias vão consequentemente engendrar a mentalidade capitalista. Está então posto o pré-capitalismo onde a confecção dos produtos e as relações de troca vão dar espaço para o trabalho assalariado que no primeiro momento de sua formação vai ser conhecido como capitalismo mercantil.

        Diante deste arcabouço histórico, ARIENTE demonstra que Wallerstein estabelece uma teoria econômica denominada sistema mundial. A partir deste modelo, Wallerstein engendrou o termo sistema-mundo. Ora, é plausível a análise, sobretudo porque o sociólogo analisa o capitalismo como força hegemônica universal de maneira centrípeta, ou seja, do centro para as sub-periferias e consequentemente para as periferias. É um sistema total e orgânico. Para que uma determinada região tenha êxito econômico, outra tem que se submeter. Torna-se evidente então, que para às elites donas dos meios de produção acumular cada vez mais capital, é necessário à contratação de mão de obra legitimando a desigualdade social. Isso reforça a imagem do desenvolvimento desigual, pois se não tivesse centro tudo seria periferia. Os minissistemas são compostos por economias ditas tribais devido ao paulatino crescimento demográfico isolado das demais.

        Império-mundo corresponde a um único governo centralizador que domina os arredores geográficos anelando à expansão como no caso da América portuguesa e Portugal. Já a economia-mundo corresponde ao amálgama dos Estados que participam da divisão social do trabalho, pelo que se compra e vende não havendo fronteiras sendo complexo e lucrativo, mas que demandam investimentos (gastos).

        Braudel incorpora em sua longa duração a ideia de economia-mundo de Wallerstein. A partir das diferenças regionais engendrou o esquema tripartido. A primeira e inferior chamada de “vida material” pelo qual o homem se relaciona inconscientemente pelo uso e não pela troca, a “economia de mercado” onde é o inverso da primeira e a terceira deste tripé econômico que é o capitalismo legitimador da desigualdade por indústria que acumulam em excesso seu capital. Assim como Braudel, Arrigui afirma que o capitalismo é uma fonte ilimitada que pode mudar e se adaptar a inúmeras possibilidades facilmente conforme o tempo, espaço e realidade em que estiver. É o que Arrigui chamou de comportamento cíclico o que só poderia ser feito uma releitura ou estudo a partir do conceito de longa duração braudeliana.

 

Alienação do proletariado

            Quando analisamos a etimologia da palavra alienação encontramos suporte em diversos campos de estudo, mas por hora, vamos nos conter sobre uma definição filosófica pelo qual Marx se aproximou. Trata-se da base hegeliana (Friederich Hegel – 1770-1931) que descreve o sujeito inserido em uma dada sociedade que acaba por perder sua própria consciência, sua essência humana entre seus pares e a sociedade entorno. A grosso modo pode sintetizar como o homem programado, ou seja, o indivíduo que reproduz ações e reações devido a sua interação, sobretudo no mercado de trabalho[2]. No entanto, diferente de Hegel, Marx considera a alienação por motivos estritamente econômicos, ou seja, os trabalhadores deixam de ser vistos como seres humanos dando lugar para um número, um funcionário, escravizado simbolicamente pela sua necessidade de capital para sobrevivência ao ser submetido pelo capitalista a fornecer seu corpo e sua força no trabalho em troca de salário. Certamente, este salário sob a contextualização da teoria de “Mais Valia”, ou seja, o valor que se valoriza, o acúmulo desenfreado de capital nas mãos dos donos dos meios de produção.

            Destarte, o homem passa por um processo de “coisificação” ou mais propriamente dizendo, se transforma em coisa, um número, uma engrenagem inserida na dinâmica excludente do capital. O proletário não consegue reconhecer sua participação no produto final a ser comercializado e tende a reproduzir seus afazeres da mesma forma que lhe foi ensinado. Apertar e desapertar botões e parafusos, produzir manufaturas mediante as ordens de serviço de maneira rápida, segura e produtiva são mais algumas considerações que conseguem penetrar no plano da mentalidade dos operários de tal modo que o indivíduo passa a perder a essência de sua humanidade. Torna-se o homem máquina cheio de cobranças por parte dos proprietários e da sociedade que exige nesta conjuntura econômica que este seja partícipe desta força cíclica, política e social. Tal posicionamento acaba por esgotar as energias destes trabalhadores que necessitam do pouco que lhe é garantido – salário – para sobreviver. Disso resulta a estratificação social, ou seja, a diferença de classes onde os que trabalham ficam abaixo da média pela simples necessidade de ter que trabalhar para garantir o sustento de sua família. Já no topo, o burguês encontra nesta dinâmica exploratória a permanência da sua vultosa opulência. Não é a toa que diante destas questões Marx abre uma de suas obras dizendo: “A história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história da luta de classes” (Marx, 2013, p.45).

 

 

Referências Bibliográficas

 

Hobasbawm, Eric J. A Era do Capital, 1848-1875. 23ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2015.

 

_______________. Era dos Extremos. O breve século XX 1914-1991. Tradução Marcos Santarrita; revisão técnica Maria Célia Paoli. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

 

_______________. Nações e Nacionalismo desde 1780: programa mito e realidade. [tradução Maria Célia Paoli, Anna Maria Quirino]. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

 

MARX, Karl e Friederich Engels. O manifesto do partido Comunista – 2ª ed. Tradução: Pietro Nassetti – 12ª reimpressão. São Paulo: Martin Claret, 2013.

 

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 23ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2013.

 

 

Referências Virtuais

 

ARIENTE, W. L.; FILOMENO, F. A. Economia política do moderno sistema mundial - as contribuições de Wallerstein, Braudel e Arrighi. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 28, n. 1, jul. 2007, p. 99-126. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2015.

 

COSTA, Thiago Augusto Pestana da. Diálogo com a História Colonial: Agricultura e Comércio na América Portuguesa. Revista Ars Histórica (UFRJ). ISSN 2178-244X – Rio de Janeiro nº 9, p. 210-220, ago. 2014; Disponível em: https://www.ars.historia.ufrj.br/; Acesso em 04 abr. 2015.

 

FRANCO, Tânia. ALIENAÇÃO DO TRABALHO: despertencimento social e desrenraizamento em relação à natureza. CADERNO CRH, Salvador, v. 24, n. spe 01, p. 171-191, 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/ccrh/v24nspe1/a12v24nspe1.pdf; Acesso em 15 mar. 2015.

 

PAIVA, Carlos Águedo. Marx, Dobb, Sweezy e Hobsbawm, e a polêmica acerca da transição do feudalismo para o capitalismo. Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/106811082/Marx-Dobb-Sweezy-e-Hobsbawm-e-a-polemica-acerca-da-transicao-do-feudalismo-para-o-capitalismo-pdf>. Acesso em: 14 mar. 2015.



[1] Professor e historiador com ênfase na História do Brasil Colonial e seus respectivos agentes internos e externos que fomentaram a incipiente dinâmica econômica do Brasil.

[2] Na indústria cultural veja o filme Tempos Modernos onde o ator e escritor Charlie Chaplin interpreta a vida de um operário no chão de fábrica fomentando os anseios do capitalismo avassalador. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CozWvOb3A6E; Acesso em: 07 mar. 2013.