Privatizações: a Distopia do Capital (2014)

Privatizações: a Distopia do Capital (2014)

Para pensar e reletir melhor sobre os aspectos políticos, econômis que por conseguinte fazem parte dos estudos históricos. Silvio Tendler elaborou este filme que pode abrir seus olhos sobre a plena realidade do Brasil.

Disponível em: www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU; Acesso em 30 mar. 2016.

 

Breve reflexão histórica sobre o contexto político do

Brasil e a presença do capital no século XX e XXI

Professor Thiago

COSTA, Thiago Augusto Pestana

 

            Diante dos materiais fornecidos disponíveis para a elaboração deste trabalho, os devidos apontamentos serão elencados de maneira sintetizada, uma vez que o assunto é demasiado extenso. No entanto, ficou nítido a partir destes estudos, compreender a partir de uma reflexão histórica os processos que foram sendo desmembrados pela política e a massiva participação da mídia e do poder capital. Nesse sentido, a ideia de nacionalismo industrial iniciada na chamada “Era Vargas” passou por constantes transformações, e na década de 1980, o neoliberalismo começou a tomar forma e ganhou força. As empresas públicas passaram a ser privatizadas e tanto os políticos quanto a mídia, tiveram papel preponderante para através do discurso de “progresso” influenciar a cabeça do povo com ilusões. É mais do que conveniente que o posicionamento e conhecimento sobre este assunto sejam pautas nas aulas de História levando os alunos a uma profunda reflexão crítica sobre política e economia. O mercado como agende regulador das condições de vida da população e da ordem política são elementos a serem explicitados, sobretudo devido à influência do capital financeiro que enfraquece o Estado mantendo sua hegemonia excludente e avassaladora, pelo qual seu único objetivo é manter a opulência de poucos em detrimento ao trabalho de muitos.

            Sendo o Brasil, um país de proporções continentais rico em recursos naturais, o capital busca meios de faturar cada vez mais. O neoliberalismo iniciado em Collor levou o Brasil para caminhos cada vez mais desastrosos. As privatizações ocorridas no Brasil a partir da década de 1990 foram de fato, o início da nossa destruição econômica. A desestatização como propaganda política buscava caminhos para justificar o arcaísmo do Estado para favorecer o poder do capital. Os minérios, transportes e até a Petrobrás perdeu vultosa porcentagem de suas ações para os estrangeiros. Há tempos, o cantor Raul Seixas alertava a situação em sua música Aluga-se o Brasil, porém, o cantor não sobreviveu à entrada dos anos 1990 para presenciar a venda do Brasil e não sua locação. Uma das grandes perdas foi a Vale, privatizada em 1997, e mesmo com a pressão popular e dos sindicatos, mas não adiantou, ela foi arrematada em leilão. Aquele mercado voltado para fora explicitado por Caio Prado Jr. no contexto colonial, passou a ser praticado com uma nova roupagem. As privatizações não foram um sucesso como anunciado nas propagandas da época. O presidente Fernando Henrique Cardoso tentou privatizar a Petrobrás, patrimônio nacional de suma importância para a economia brasileira. O desmembramento da Telebrás dissolvida neste mesmo governo foi mais uma entrega do patrimônio nacional para o capital privado por um preço irrisório. Outra tentativa popular de evitar este assassínio foi intentada por manifestantes que mais uma vez não conseguiu. Entre presos e feridos, a Telebrás também foi arrematada.

            Vale ressaltar o papel das Agências Reguladoras, ou seja, aquelas responsáveis em garantir os direitos públicos, na verdade, foi o contrário, elas não são órgãos independentes e sim, instrumentos do neoliberalismo inseridos no pacote das privatizações. O povo não pode contar com estas. A desestruturação das empresas públicas foi ardilosamente almejada de maneira leviana para que a partir do “fracasso” do Estado, as privatizações pudessem estender seus tentáculos sob a justificativa do insucesso do papel do Estado na administração das empresas. No âmbito da saúde e da educação não foi diferente. O SUS que era para ser prioridade nas necessidades básicas da população brasileira não oferece serviços de qualidade à altura devido ao seu processo de terceirização e a educação é vista como um negócio lucrativo. Ora, as instituições privadas encontraram na educação, a possibilidade de estender cada vez sua hegemonia, e algo que devia ser público, mais uma vez é absorvido pelo capital. O dinheiro arrecadado com os impostos que poderiam ser investidos em tecnologia não é utilizado para esta finalidade, e quando percebemos que a dívida externa do Brasil foi paga em 2005 com nossos recursos e que fora engendrada depois uma dívida interna massivamente maior, nos sentimos cada vez mais traídos. A questão da moradia é outra problemática, ou seja, o direito de moradia da população é sobrepujado pelo capital que expropria as pessoas e empreendem seus investimentos excluindo plenamente as classes populares. Os transportes públicos são privados e nisso já não discorreremos mais, a própria inversão dos valores e usos já se autojustificam.

            Em função disso, teria solução para o Brasil se reerguer? A utopia sairia deste contexto a partir do momento que a população brasileira se conscientizasse sobre estas questões a saísse da égide do senso comum e aprendesse que ela tem o poder. A mobilização popular consciente não só pode como deve lutar para defender seus interesses e não deixar que tomem as decisões por ela e, sobretudo com o dinheiro dela. É possível reverter os processos de privatização assim com fez a Bolívia com a água e gás e a Argentina com o petróleo.

            Assim como o homem mudou, as palavras e os sentidos que elas reproduzem aos poucos foram mudando e se readaptando a outros contextos. No caso da barbárie, a violência deixou de ser aquela dos antigos bárbaros e passou a fazer parte do vocabulário crítico ao capitalismo. É, pois, necessário conhecê-lo para superá-lo. Quando nos ausentamos de consciência política estamos entregando nas mãos de políticos e do capital a única coisa que a História não pode fazer: prever o futuro. As guerras são por si fatores econômicos e a chamada “indústria cultural” se apropria de certa forma do assunto como entretenimento angariando vultosos cabedais de uma população desavisada dos elementos históricos que compõe o enredo da trama. As utopias de uma sociedade comunista, socialista foram sobrepujadas pelo capitalismo, excetuando Cuba que resistiu o capitalismo norte-americano. No Brasil, com o golpe instaurado em 1964 depondo o então presidente João Goulart deu aos militares o poder e iniciou o chamado período de ditadura. O cerco se fechou e a liberdade passou a ser além de restrita, vigiada. O “desaparecimento” de pessoas que não compactuavam com o regime foi constante e rotineiro. O AI-5 foi de fato, mais uma mancha para a História do Brasil. Ao homem foi tirado o direito de democracia. O medo tomou conta de muitos e a coragem para resistir foi a de poucos. Em 1968 o mundo passou por enormes insurreições, o povo sentiu a confiança em questionar e foram fortemente reprimidos. A violência física e psicológica sondava os manifestantes, daí a barbárie. O exílio fez parte da realidade de manifestantes, estudantes, artistas escritores etc. e quando regressavam ao Brasil, que Brasil era este? Muitos amigos haviam caído, outros estavam espalhados pelos cantões do mundo e aqui só restou a eles a memória e a certeza, que de certa forma, alguma coisa para mudar foi tentada.

            Os inflamados discursos de Lula e Brizola trouxeram ao povo na década de 1980 a esperança de mudança, a queda da ditadura e a plena democracia, sobretudo com direito ao voto. Mas não percamos de vista que não são de discursos inflamados que a situação do povo muda como vimos acontecer com Collor. No vídeo o historiador Jacob Gorender levanta suas críticas sobre a utopia, o Teatro da Libertação israelense, resiste, o imperialismo continua pujante e a China que na década de 1960 seria uma ameaça para o mundo capitalista, hoje é um braço do sistema. Utopias e barbáries são no sentido histórico posicionamentos políticos intrínsecos à economia de onde as elites capitalistas procuram cada vez mais expandir seus interesses sem se preocupar com as consequências que elas podem engendrar para os seres humanos. O dramaturgo Augusto Pinto Boal disse que “viver em sociedade não é só andar por aí, isso é vegetar em sociedade. O verdadeiro cidadão não é aquele que vive em sociedade, é o que transforma a sociedade”. Nesse sentido, a luta pela liberdade tanto no campo social, político, econômico e cultural ainda permanece em um processo de “longa duração”, e é necessário que a população saiba a definição plena do exercício de cidadania. As utopias da ditadura foram caladas com torturas, o direito à democracia fora negligenciado e pessoas pagaram com a vida. Não se trata de idealizar uma sociedade perfeita, e sim de compreender que a população brasileira, tem o poder de mudar, transformar e vencer. Ora, não podemos deixar-nos persuadir. Acredito que a plena vilã do século XXI é a propaganda que atrelada ao capital abarca a política brasileira que viabiliza os interesses exógenos em detrimento das necessidades endógenas. A frase “Brasil um país de todos” deveria ser mudada para um país de brasileiros, não no sentido xenofóbico, e sim no de satisfazer as necessidades da população brasileira. A roupagem do Brasil contemporâneo está calcada em costuras coloniais, que, por conseguinte, estão inseridas em políticas imperialistas neoliberais que ditam as normas na nossa própria casa. Uma análise evidentemente marxista não poderia faltar para compreender os elementos que fizeram o Brasil ser o que é tampouco imaginar o que ele possa ser. No entanto, a pressão popular é a única forma de adquirir melhores condições de vida para a civilização brasileira e é necessário que os cidadãos tenham este tipo de conhecimento histórico para que não façam reivindicações infundadas sob o viés direitista.

 

Referências Virtuais

 

TENDLER, Sílvio. Privatizações: a distopia do capital (2014). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xJPCKjT0XXk; Acesso em 20 nov. 2015. Duração: 56m34s.

 

TENDLER, Sílvio. Utopia e Barbárie (2014). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cn9li_NePro; Acesso em 20 nov. 2015. Duração: 02h01m35s.